Como disse o grande escritor irlandês Oscar Wilde, “viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. De fato, a vida não é um processo linear e é isso que o filme sugerido hoje retrata bem.
Lançado em 1998 no Brasil, o filme “O show de Truman”, do diretor Peter Weir, aborda a temática do livre-arbítrio, do poder de decisão, dos medos, dos traumas infantis, das turbulências da vida etc. E um filme excepcional desses não podia contar com ninguém menos que Jim Carrey no papel principal.
O longa metragem acontece numa cidade estadunidense pacata e conta a história de Truman Burbank (Jim Carrey). Truman vende seguros de vida e é casado com Meryl Burbank. Sua vida é um ciclo de situações que parecem se repetir dia após dia. Entretanto, após ocorrerem algumas situações e após conhecer a misteriosa e bela Lauren, ele passa a questionar sobre a sua existência. Truman passa a acreditar que a sua vida é monitorada por pessoas que ele desconhece.
E não é que o vendedor de seguros está certo. Após analisar algumas ações de pessoas ao seu redor, Truman passa a verificar que os lugares são os mesmos, as pessoas são as mesmas, as ações são as mesmas. Ao descobrir isso, ele tenta fugir dessa realidade, mas não consegue sair da sua cidade, porque o que ele não sabe é que ele é um “produto de mercado” criado pela mídia desde o seu nascimento, que é acompanhado por milhares de pessoas em rede nacional.
Imagine ter a sua vida monitorada por diversas câmeras todos os dias, em diferentes ângulos e closes? A vida de Truman é, na verdade, um reality show em tempo real. E como o diretor do filme é o mesmo de “Sociedade dos poetas mortos” (1989), a temática se trata de coisas que tocam profundamente o ser humano, que no caso de “O show de Truman”, é a questão da privacidade.
Truman acha que possui controle e poder de decisão, livre-arbítrio, mas suas “escolhas” são reflexos de uma história criada pelo diretor do reality show, que forjou medos e conflitos internos na personalidade de Truman, que acabam por limitar as suas decisões e ações.
Algo que chama a atenção também é que o filme é um “metafilme” ou uma “metalinguagem”. O conceito de metalinguagem fala sobre uma linguagem que explica ela mesma. Isso ocorre quando o diretor decide fazer um filme e coloca nele mesmo os conceitos utilizados na gravação de filme (close up etc). Na gravação do reality show de Truman, o diretor lança mão de termos cinematográficos para envolver o telespectador. Um jeito inteligente e interativo de fazer filme.
Enfim, o longa é uma ficção, mas tem muito do ser humano em todos os sentidos. Truman quando percebe a ficcionalidade da sua vida resolve praticar o autoconhecimento para vencer os seus medos e transpor os limites territoriais das suas escolhas “fabricadas” por um programa interessado apenas em ganhar audiência, entreter a grande massa e vender produtos. A crítica a grande mídia é notória, porém mais visível ainda é a grande mudança de mentalidade de Truman, que tem no final do filme a chance de usar de verdade o seu livre arbítrio. O que será que ele vai decidir fazer?
Texto por Michele Souza
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